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Moreno e as bananas


Cada tema que entrou no meu repertório fotográfico tem uma historinha. Primeiro vieram as paisagens, depois me interessei pelo micro mundo da macro fotografia e tive que aprender a ser mais rápido para começar a fotografar vida silvestre. E, por último, passei a fotografar pessoas.

E os retratos demoraram mais por um simples detalhe: minha timidez. Sei que muita gente que me conhece vai rir ao ler isso. De fato, essa é uma característica da minha personalidade que não é muito evidente. E nada como o passar dos anos para nos ensinar a lidar melhor com nossos próprios limites.

Na época em que fiz minha pesquisa de mestrado no Parque Nacional do Superagui, no final dos anos 90, a relação um pouco mais longa com a comunidade de pescadores caiçaras me deu coragem para arriscar alguns retratos. Mesmo assim, muitos ainda de longe, às vezes chegando de mansinho para não ser visto, mas quase nunca “descaradamente”. A timidez ainda era uma barreira.

Quando comecei a trabalhar com povos indígenas para meus projetos ambientais, decidi que estava na hora de transpor, de vez, esse limite. A noção de que agora era importante ter capacidade de chegar perto e estreitar a relação com os fotografados era evidente. Passei, então, a conversar muito antes de fotografar alguém. Tentava compreender o necessário sobre a pessoa, que me permitisse fazer um retrato honesto. E gostei demais dessa brincadeira! Por muito tempo, quase esqueci minhas outras paixões fotográficas para me dedicar aos retratos.

E, já passado esse processo de superação, estava eu, um dia, em Tarauacá, no interior do Acre. Batia perna pela orla do rio, vendo os barcos e canoas que desembarcavam produtos vindos das comunidades da região. Subi para o mercado, onde são comercializados diversos artigos locais.

Caminhava despretensiosamente, com a câmera pendurada a tiracolo, até que passei por um box onde vi uma cena que parecia ter saído de um conto de Gabriel Garcia Márquez: naquele extremo calor amazônico, um homem sem camisa, mão atrás da cabeça, estava deitado em uma cadeira com os pés apoiados em outra, em meio a dezenas de cachos de bananas. A cena me chamou tanto a atenção que passei mais duas vezes pela frente da portinha, só para ver de novo. E ele lá, imóvel.

Por alguns minutos hesitei em pedir para fotografá-lo. Achei que seria invasão demais e que, possivelmente, a espontaneidade da cena se perderia. Felizmente, considerei a oportunidade muito boa para perder.

Voltei, entrei no box e puxei uma prosa, obviamente, sobre bananas. Meu medo era de que o homem se levantasse para me atender e a cena se desfizesse. Mas a única coisa dele que se movia era a boca, para responder minhas perguntas. Depois de alguns minutos, quando esgotei todas as questões que poderia ter sobre bananas, perguntei seu nome e se poderia fazer uma foto.

E assim nasceu a imagem do Moreno (não sei se é nome ou apelido) em meio às suas bananas, deste post. Fiz várias fotos e ele mal movia os olhos para acompanhar meus movimentos. Gostei da foto porque acho que essa cena fala muito da cultura e do ritmo de vida dos ribeirinhos da Amazônia.

Agora, seguem os detalhes técnicos da imagem: usei Câmera Nikon D750 e Objetiva Nikon AFS 16-35mm f/4G @ 16mm. Exposição: ISO 400, abertura f/5.6 e velocidade 1/30s. Optei pelo modo Live View com o LCD articulado para fazer a foto de um ângulo mais alto do que a minha cabeça.

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